EXPOSIÇÕES

		As Viagens de Santo Agapito de 10 de Dezembro a 14 de Janeiro/ ano 2008 Teatro Aveirense Estes painéis temáticos são o que resta das pinturas a óleo de fígado de bacalhau da catedral maneirista de St. Agapito em Lucrécia, Borgia (ita), e que tanta controvérsia provocaram nos meios e fins académicos.
a esquerda para a direita, sem contar com a pintura “Night and Day”, que está dia e noite atrás de um piano, começo pelo “Cemitério dos prazeres”. Esta paisagem não é uma paisagem qualquer. Com uma faixa de céu ao fundo, é, na realidade, uma súmula de objectos ou elementos mais ou menos paisagísticos dispostos na prateleira que é o plano horizontal da perspectiva cavaleira. Cavalar, e não cavaleira, é a figura equídea equidistante da coluna lateral esquerda com um capitel apoiado sobre um a cabeça do deus Pan, sobranceiro a uma diva lavativa. Será Agapito o menino que sai do magma lenhoso, de costas de touro, empunhando um tosco mas afiado pau com o qual ameaça o casal pagão? O Santo Lenho contra os idolatras que Agapito iria mais tarde matar de mil macacas mortes: em azeite a ferver, queimados, estripados, á Gomes de Sá, etc. A árvore central é o símbolo do Mundo, a Torre o de Deuladeu Martins e o lago pantanoso o das atribulações de um cristão na Cristandade. Ao fundo contemplam-nos os séculos piramidais de Gizé. É portanto não só a Infância mas também o Devir. A Seguir somos confrontados com uma árvore - esfinge. Um enigma em X, várias caras, a cebola dos Eus. castelos, espirais, nosso senhor nos proteja. Assim se forja a personalidade do nosso jovem herói: atrás do castelo superficial, o brasão negro. E, por trás da rígida e estática cruz, o movimento imparável, como a corrente de um caudaloso rio, como os cornos do tempestuoso gnu, dos ramos vivos que abrem óculos onde os ornamentos antevêem futuros venenos. Continuemos. Prossigamos. Aqui, na clareira da floresta, está a criatura que venceu a esfinge, o imberbe centauro, rodeado pelo maternal carinho do bosque, seu refúgio. Além, passando a porta, entre duas árvores da grande floresta da civilização, que vislumbra? A sua amada Hera, que se banha na fresca cascata de água do Luso, num país do futuro chamado Portugal, contemplada pelo seu fiel canídeo “Salazar”. As águas passam e o rio nunca se repetem, na sua monotonia. Os fantasmas dos navegadores pressagiam a sua viagem a Bizâncio. O doce Amor atormenta o futuro Santo homem. Perde a liberdade quando o coração lhe sai pelo peito, fechado numa prisão contra a sua própria razão e contra a lógica do pensamento cristão. Foi assim que resolveu fechar um olho. Não que tivesse cegado. Apenas manteve a decisão de não o voltar a abrir. Segue as águas da cascata. E erra por montes, prados e vales, peregrino, de esfarrapadas vestes, chapéu de tartaruga, embrulho de pertences na ponta de uma vara, em busca daquilo que busca, e que é a própria busca, senão não seria um peregrino, mas um tipo organizado. Podemos observá-lo através do óculo barroco ladeado por azulejos do séc. XVII. Ele continua a andar. Normalmente encontra-se no próprio interior do peregrino aquilo que ele procura por fora. Por fim, eis que ele chega, tal cruzado ciclope, sobre a seu sangrenta montada, ao desaguar do rio para atravessar o Mediterrâneo, esse lago de jardim, em direcção á ilha de Bizantium que é também a de Cytherea e a da morte. Caronte passeia-se sobre um tronco morto enquanto os amantes se beijam na gruta.
Mais informações: www.teatroaveirense.pt/

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